O cenário imprevisível dos últimos meses, imposto pela pandemia do novo coronavírus, tem provocado mudanças em toda a sociedade. Seja nas relações interpessoais ou na limitação das atividades, a realidade de uma quarentena sem prazo para terminar ampliou a necessidade de se discutir soluções para enfrentar as dificuldades impostas à população do mundo todo.
No mundo dos negócios, a inovação pode ser considerada a saída para a sobrevivência. Em um momento em que o país ensaia a retomada de suas atividades econômicas, a digitalização tem sido a grande responsável pela performance de mercados que poderiam ter estagnado durante a pandemia.
Na última quarta-feira (15/7), no programa SOS Empreendedor, do Fórum de Jovens Empreendedores (FJE) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), discutiu esse tema e apresentou depoimentos de Cristiana Arcangeli, empresária e apresentadora do Shark Tank Brasil, Guga Stocco, CEO da GR1D e membro do conselho de administração da TOTVS e do banco Original, e também Alfredo Cotait Neto, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).
O SOS Empreendedor é apresentado por Alessandra Andrade, vice-presidente de relações com a juventude e inovação da ACSP e gestora do FAAP Business Hub, e Nando Gaspar, coordenador geral do FJE.
As recomendações de distanciamento social já estão mudando a forma de trabalhar, se locomover, fazer compras e administrar os negócios. Empresas tiveram que aprender a usar softwares mais eficientes, a rever custos, finalmente colocar no ar aquele comércio eletrônico que sempre planejaram para, enfim, realizar de vez a transformação digital. Embora não seja possível prever o futuro, é possível traçar táticas para se reinventar e se adequar ao que o novo normal propõe à sociedade e aos negócios no mundo pós-pandemia.
Seja para quem quer começar do zero ou para quem precisa se reinventar, Cris Arcangeli diz que antes de qualquer decisão, o primeiro passo é identificar a demanda do setor escolhido e suas reais necessidades, e, sobretudo, entender como seus hábitos se transformaram com a pandemia.
Na sequência, segundo a empresária, é importante realizar um diagnóstico mais profundo de seus futuros consumidores e descobrir se estão dispostos a comprar e a pagar o preço do produto ou serviço que pretende oferecer, e por quais canais vender.
“É muito complicado vender algo que as pessoas não precisam num momento de crise. O número de desempregados já supera o de ocupados e a renda está totalmente comprometida”.
Para a empresária, por uma questão de sobrevivência, o momento é de reinvenção e, para tanto, é preciso levar o negócio à internet e não perder a comunicação direta com seus clientes sobre a nova forma de atendimento e adaptações para o período de quarentena. Também vale a tentativa de renegociar valores de aluguel e suprimentos.
ASSOCIATIVISMO
Segundo Cotait, entre tantas consequências de um contexto de crise, uma que terá impactos positivos é o fortalecimento do associativismo. Desde o início da quarentena, entidades e associações têm se dedicado a disseminar as novas exigências criadas pelo governo para a retomada gradual dos negócios. Muitas delas afetam o andamento das atividades comerciais e exigem uma pitada de criatividade dos empresários.
“Uma crise acontece sempre que um sistema econômico está exaurido. A ACSP vem monitorando os impactos da crise desde o início e são as entidades de classe que na atual situação do país, representam a relevância dos interesses também da população”, diz. “É fundamental estar inserido num processo da sociedade e ser parte integrante do associativismo para estar conectado com demais empreendedores”.
Ao traçar estratégias, o presidente da ACSP destaca que as crises são grandes reveladoras de oportunidades e muitas vezes, aceleram o processo de inovação. Ele cita um feito da ACSP durante a pandemia, a Vitrine ACSP, um shopping virtual por meio do qual os associados podem ter sua loja e anunciar seus produtos na plataforma de comércio eletrônico.
TECNOLOGIA E CUSTO MARGINAL
Para avançar na direção de um futuro mais digital, Stocco diz que é importante olhar para as empresas que transformaram vorazmente nossos hábitos de consumo nos últimos anos, como a Netflix e o Spotify que por uma mensalidade simbólica substituíram um enorme acervo físico de conteúdo. E tudo isso por meio de um novo paradigma de negócios chamado de custo marginal zero. O empreendedor explica:
“As empresas por trás desses negócios não precisaram aumentar seu patrimônio físico ou injetar recursos na mesma medida que a escala de usuários cresce”, diz.
Ou seja, num mundo de negócios com plataformas em que as experiências são compartilhadas, o preço cobrado é diluído e partilhado entre as várias pessoas que o consomem. Em outro exemplo prático, Stocco questiona: Quanto custa fazer uma busca no Google? Zero. Quanto custa para o Google manter a plataforma que viabiliza essa busca? Basta dividir o total de trilhão de buscas realizadas pelo custo da empresa e é possível perceber que a sua transação é próximo de zero.
Enquanto muitas empresas já entendem esse movimento e tentam trazer essa perspectiva, outras ainda precisam de estímulos. Contratar empreendedores para ter uma visão multidisciplinar, inovar e trazer resultados têm sido uma boa estratégia, segundo o empreendedor. O modelo de partnership, muitas vezes utilizado para promover colaboradores a sócios, pode funcionar para o crescimento de uma organização, especialmente, no que diz respeito a receita e lucro. Entretanto, o especialista destaca que não há como admitir um novo sócio se os dividendos a serem distribuídos não aumentarem. É preciso foco e planejamento.
Fonte: Diário do Comércio