Por: Renato Bernhoeft
Uma avaliação sobre a maioria dos impactos que a pandemia vem provocando em todos os segmentos da sociedade ainda vai exigir um longo tempo, além de amplos estudos dos mais diferentes pesquisadores, estudiosos, empresas e diferentes organismos públicos e privados.
De qualquer forma já é possível observar, e sentir, alguns efeitos sobre o universo do trabalho e suas estruturas corporativas.
Segundo alguns estudiosos da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e do Instituto de Economia do Trabalho, que já previam como um dos principais fenômenos que está impactando o mundo laboral no século XXI, “é a tendência de mais flexibilidade dos vínculos entre empresas e trabalhadores”, fica evidente que o surgimento do Covid-19 atropelou muitos desses processos.
E um dos fenômenos mais sentidos, no plano imediato, foi a ampliação do “home-office”, que, embora já utilizado em uma escala relativa, tornou-se o dia-a-dia de um significativo contingente de profissionais, em todo o mundo. Embora, em muitos casos, de uma forma um pouco desordenada e sem o devido preparo das partes envolvidas.
Mas o que importa começar a levar em conta é que esta forma de trabalho deve permanecer e ser adotada por muitas organizações, para os próximos meses e anos.
Razão pela qual as suas formas e impactos merecem ser analisadas para os devidos ajustes e adaptações. Tanto das empresas como dos seus colaboradores.
Vejamos então alguns pontos – que não esgotam o tema – e que já vem sendo abordados e discutidos pelas partes envolvidas e seus estudiosos.
Abaixo enumero algumas questões para reflexão.
– Como implantar um sistema de supervisão do tempo dedicado ao expediente, que não se baseie apenas em horas trabalhadas, mas seja mais focado em resultados?
– Quais são algumas formas para dividir os custos na medida em que as despesas com energia, instalações, comunicação, refeições e transporte se desloquem das empresas para os colaboradores?
– E o desafio de preservar o sigilo, confidencialidade, segurança e demais informações de caráter estratégico ou comercial das organizações na medida em que passam a ser manipuladas fora de suas sedes e instalações?
– De que forma assegurar que não haja invasão de privacidade – ou até da intimidade – do funcionário, na medida em que ele passa a usar sua residência particular/familiar como local de trabalho?
– Que formas, metodologias e instrumentos deverão ser utilizados em processos de treinamento, autodesenvolvimento e aprendizagem dos colaboradores?
– Quais os sistemas de avaliação passam a ser empegados, e se mostrem eficazes, no encaminhamento de promoções, transferências e políticas salariais?
– Que formas podem funcionar na busca do equilíbrio entre atividades à distância e presenciais?
– De que maneira cada colaborador vai conseguir estabelecer um ambiente isolado das interferências, ruídos e demandas que caracterizam sua vida doméstica?
E por último, um aspecto cada vez mais valorizado no mundo corporativo, que é o da adesão e prática, dos colaboradores, à cultura e valores expressados pela organização à qual estão vinculados.
Este item, em nossa opinião, merece especial atenção.
Afinal, todos os estudos, ensinamentos e teses realizados sobre o mundo corporativo, sempre valorizaram a importância de haver uma “cultura de crenças e valores” de cada organização, bem como um empenho nas formas de obter a adesão prática do seu quadro de profissionais. E nos mais diferentes níveis hierárquicos.
É evidente que esta crônica não esgota o tema. Apenas busca provocar debates e atenção para um processo de revisão – tanto individual como corporativo – que a pandemia está provocando em nossa sociedade.
Fonte: Administradores