São Paulo, Florianópolis e Curitiba são as três melhores cidades do Brasil para empreender. É isso que aponta o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) 2022, estudo criado pela Endeavor e, nesta edição, produzido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap).
O levantamento foi feito com base em dados de 2021 e é o principal raio-x do ambiente de negócios brasileiro. Serve como norteador para o avanço do setor, revelando para gestores públicos quais aspectos precisam ser valorizados ou melhorados nas cidades. Os dados apresentados se baseiam em sete fatores determinantes para o sucesso do empreendedorismo: ambiente regulatório; infraestrutura; mercado; capital financeiro; inovação; capital humano; e cultura empreendedora.
“No ranking geral o empreendedorismo continua concentrado em cidades do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas um olhar mais aprofundado por área nos permite ver que municípios do Nordeste e Norte também têm experiências bem-sucedidas relevantes. Essas experiências podem e devem ser replicadas no contexto pós-pandemia que vivemos, especialmente porque uma das marcas da atualidade é o rompimento das barreiras físicas e a instalação permanente dos negócios digitais no país”, destaca o presidente da Enap, Diogo Costa.
Segundo ele, o empreendedorismo é o motor da produtividade e do crescimento econômico: “Toda a transformação digital, ambiental e social que precisamos enfrentar começa com uma transformação empreendedora”.
“O Índice de Cidades Empreendedoras é uma contribuição relevante da Enap para evoluir o debate sobre empreendedorismo no Brasil, apresentando indicadores que guiam os formuladores de políticas públicas das cidades brasileiras no desenvolvimento de ecossistemas mais propícios para o crescimento das empresas” complementa a diretora de Relações Institucionais e Governamentais da Endeavor, Renata Mendes.
Ambiente regulatório
No quesito ambiente regulatório, Rio de Janeiro, Macapá, São Gonçalo e São Paulo permanecem na lista dos 10 municípios mais favoráveis ao empreendedorismo. Várzea Grande, Cuiabá, Joinville, Florianópolis, Blumenau e Porto Velho melhoraram nesse aspecto em relação ao levantamento anterior e agora estão no top 10. Essas são cidades com pouca burocracia e que têm valores de taxas e tributos locais bem atrativos para o empresariado.
Melhores alíquotas tributárias de IPTU, ISS e ICMS: Macapá, Campo dos Goytacases, Ananindeua e Porto Velho.
Simplicidade tributária, como emissão on-line de certidões negativas de débitos e legislação de zoneamento municipal atualizada: São Paulo, Guarujá, Praia Grande e São Gonçalo.
Desburocratização no tempo de registro e cadastro: Várzea Grande, Cuiabá, Aracajú e São José dos Campos.
Infraestrutura e condições urbanas
Em relação à infraestrutura de transportes e condições urbanas, municípios de São Paulo são os mais bem posicionados e praticamente dominam o ranking dos 10 +. Isso foi observado no relatório anterior e também na edição atual. Destaque para cidades de outras partes do Brasil que se aprimoraram e subiram de posição, como Brasília, Porto Alegre, Rio Branco e Florianópolis.
O bom desempenho nesse item está relacionado à boa conectividade por rodovias, menores distâncias de portos e maior número de decolagens de avião por ano. É o caso também de amplo acesso à internet rápida, bom preço médio de imóveis por metro quadrado, custo de energia elétrica satisfatório e baixa taxa de homicídios (já que estudos mostram que o comércio é o principal grupo afetado pela violência e criminalidade).
Transporte interurbano: São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre e Fortaleza.
Conectividade por rodovias: São Paulo e Brasília.
Distância do porto mais próximo: Salvador, Porto Alegre e Fortaleza.
Condições urbanas: Rio Branco (baixo preço médio do metro quadrado) e Santos (baixo custo de energia elétrica, amplo acesso à internet rápida e baixa taxa de homicídios).
Mercado
No item mercado aparecem representantes de todas as regiões do país em posição de destaque. Em 2020, nenhum município do Norte aparecia entre os 10 primeiros, mas no novo estudo Boa Vista integra a lista, em 8º lugar. “É esse determinante que avalia o poder de compra da população, o mercado consumidor e o alcance ao mercado externo. A diversidade de municípios com bom desempenho nessa área mostra que há cenários favoráveis em termos de economia de produção e de consumo em várias partes do Brasil”, comemora a diretora de Altos Estudos da Enap, Diana Coutinho.
Boas oportunidades de mercado:
Ambiente competitivo (nível de renda e de empresas exportadoras): Niterói, Brasília, Canoas, Jundiaí e Osasco.
Pólos de atração para novos negócios (alternativas às cidades maiores): Jundiaí e Osasco.
Crescimento do PIB: Canoas e Niterói.
IDH, compras públicas e alto PIB per capita: Brasília.
Acesso ao capital
O capital para empreender no Brasil está disponível principalmente em grandes centros urbanos. Essa é uma realidade que aparece no ICE de 2020 e se mantém em 2021. Das 10 cidades mais bem colocadas nas duas edições recentes do índice, oito são capitais e duas fazem parte de regiões metropolitanas.
As principais formas para empresários captarem recursos financeiros no país são: crédito bancário com juros (capital disponível via dívida); venda de uma parte do empreendimento para fundos de investimento (capital de risco); e poupança (capital poupado per capita). Estudos empíricos indicam que o “custo” de acessar esses recursos é o principal impedimento a ser superado na abertura de um novo negócio.
Boas oportunidades de acesso a capital:
Crédito bancário e capital poupado: São Paulo e Porto Alegre.
Capital de risco: São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte.
Operações de crédito por município: Osasco.
Inovação
A inovação no Brasil não ocorre de forma homogênea em todas as cidades – ao contrário, é concentrada no Sudeste e no Sul. Na edição de 2020 do relatório, apenas municípios dessas regiões apareceram no topo da lista, mas em 2021 há novidades: Campina Grande (6º) e Vitória (8º) passam a integrar o rol das cidades que se destacam nessa temática em relação ao ambiente de negócios local.
As cidades que se sobressaem nesse quesito são as que têm um bom percentual de profissionais mestres e doutores em ciência e tecnologia (C&T), investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), infraestrutura tecnológica local e grande número de contratos de propriedade intelectual. Também significa que são os municípios com maior quantidade de empresas com patentes e softwares próprios, de economia criativa, indústrias inovadoras ou ligadas à tecnologia.
“São as inovações apresentadas pelas empresas que alimentam a competitividade e, consequentemente, geram maiores lucros para aquelas que mais se destacam”, aponta o ICE 2022. Contudo, apesar dos bons resultados, o relatório traz um alerta: das 101 cidades analisadas na nova edição, cerca de 80 não apresentam infraestrutura tecnológica, 44 não têm investimento em P&D e 29 tem uma baixíssima proporção de mestres e doutores em C&T. “Melhorar o cenário de inovação brasileiro é sempre importante para o desenvolvimento econômico de um país”, afirma o coordenador-geral de Pesquisa da Enap, Cláudio Shikida.
Boas oportunidades em inovação:
Parques Tecnológicos: São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Campina Grande e Recife.
Grande proporção de mestres e doutores em C&T: Campina Grande, Belém e Recife.
Registro de patentes: Campina Grande e São Paulo.
Investimento em P&D: Florianópolis, Belém e São Paulo.
Disponibilidade de capital humano
Em relação ao capital humano, os locais mais bem posicionados no ranking são os que dispõem de profissionais qualificados tanto em mão de obra básica quanto especializada. Nesse quesito, as seis primeiras colocadas em 2021 já tinham se sobressaído em 2020. Entram na lista deste ano um município da região Nordeste (Recife), dois do Sul (Maringá e Porto Alegre) e um do Sudeste (Santos).
Boas oportunidades de disponibilidade de capital humano:
Acesso e qualidade da mão de obra básica: Jundiaí, Florianópolis, Vitória, Santa Maria, Curitiba e Niterói.
Acesso e qualidade da mão de obra especializada: Florianópolis, Santa Maria, Vitória, Vila Velha, Niterói e Curitiba.
Cultura empreendedora
Cultura empreendedora é o determinante que apresenta resultados mais diferentes quando se comparam os achados de 2020 com os de 2021. Esse item foi reestruturado, procurando novas formas de se captar tendências dentro de buscas relacionadas ao empreendedorismo na internet – que foi a forma de fazer negócio que mais se desenvolveu no período.
“Com essa mudança de metodologia estamos garantindo maior agilidade e replicabilidade dos dados, mantendo a qualidade dos indicadores”, conclui o responsável técnico pela pesquisa, Arnaldo Mauerberg Jr. Nesse quesito, as cidades de Goiânia, Osasco, Brasília, Maceió e Diadema passam a ocupar o topo da lista de destaque.
Fonte: Gazeta do Povo