Com as medidas de isolamento social se intensificando nas principais capitais brasileiras, o trabalho remoto se tornou praticamente obrigatório para a maioria dos negócios que não fornece serviços ou produtos essenciais. No Brasil, até mesmo pequenas e médias empresas aderiram rapidamente ao sistema de home office.
Um estudo da plataforma de comparação de software Capterra, que entrevistou mais de 4 mil trabalhadores em países da América, Europa e Oceania, constatou que as PMEs brasileiras se adaptaram mais rapidamente à situação. No início de abril, mais de 77% das empresas de pequeno porte estavam operando com trabalho remoto no país – a média global ficou em torno de 60%.
O novo sistema, apesar de apresentar desafios, tem agradado aos funcionários: 74% afirmaram gostar de trabalhar em casa e um terço disse ainda que gostaria de manter o novo formato mesmo após a pandemia. Entre empreendedores e gestores de equipes, a ideia também foi bem aceita.
É o que mostra uma outra pesquisa, realizada a nível nacional pela empresa de consultoria Corall com a plataforma Pence. O relatório apresenta a visão de 80 líderes que atuam em mais de 60 empresas brasileiras – entre elas, gigantes de cada setor, como Santander, Claro e Volkswagen. Na última semana de março, 44% dos entrevistados responderam que gostariam de manter o sistema de home office mesmo após o fim da pandemia.
O sócio diretor da agência de comunicação Be Comunica, Rodrigo Villaboim, é um deles. Há 60 dias gerenciando uma equipe de mais de 50 pessoas remotamente, ele se surpreendeu com os resultados do home office. “Está sendo bem produtivo, o que é inesperado para a gente. Na nossa área, a conversa “olho no olho” é muito importante, então nunca pensamos em aplicar esse sistema anteriormente”, diz.
E os bons resultados, mesmo à distância, não foram surpreendentes apenas para Villaboim. Entre os principais pontos positivos citados por gestores na pesquisa, estão aspectos relacionados à produtividade. Cerca de 20% dos participantes responderam que a “adaptação rápida” foi uma surpresa positiva, ao lado dos 16% que disseram que as “reuniões tem sido mais objetivas” e dos 14% que afirmaram que a equipe tem mostrado mais “presença e foco”.
“A necessidade trouxe experiencia positivas, estamos aprendendo a ser muito mais focados em reuniões, a tomar decisões mais rápidas. Pretendemos criar um esquema para que pelo menos parte da equipe consiga continuar trabalhando com mais flexibilidade no futuro”, conta Villaboim.
Desafios
Mas nem tudo é comemoração. O sistema de home office também apresenta uma série de desafios aos funcionários e empresas, especialmente nessa fase de adaptação. Entre as maiores dificuldades relatadas pelos participantes do estudo da Corall, estão a administração do tempo, que atrapalha 45% dos respondentes, e as distrações dentro de casa, lembradas por 34% dos entrevistados.
Na pesquisa da Capterra, a nível global, o principal problema apontado pelos trabalhadores foi a falta de comunicação. Apenas 37% das empresas forneceram orientações claras sobre os novos processos de entrega e reuniões. Outros 32% apontam a solidão como a principal preocupação durante o período de isolamento social. Ou seja, é necessário um equilíbrio.
O fator psicológico também foi lembrado pelos gestores entrevistados pela Corall. Questões relacionadas à saúde mental e bem-estar, como a “sensação de angústia pelo isolamento” e uma “ansiedade de desempenho” foram citadas como dificuldades nesse período. Nesse sentido, 15% dos gestores afirmaram que pretendem manter práticas como conferir mais autonomia e flexibilidade a seus subordinados, abertura para diálogos e uma maior crença no potencial de adaptação das pessoas.
“Acho que vamos ter um “novo normal”. Poucos tinham parado para refletir se a metodologia de trabalho até então ainda fazia sentido, do ponto de vista humano. De certa forma, tudo que a gente está vivendo, vai nos ensinar muita coisa. O empresário terá que mudar a forma de pensar, vai tentar ser mais produtivo usando menos recurso e desgastando menos a equipe”, acredita Villaboim.
Estrutura e segurança
Mas as primeiras dificuldades foram sentidas no plano físico. O número de trabalhadores que afirmaram utilizar apenas os seus próprios dispositivos pessoais para trabalhar em casa, sem suporte da companhia, foi de 40%. Entre os gestores, apenas 10% relataram problemas de estrutura, como a internet mais lenta que o ideal ou um computador inferior ao que tinham acesso na empresa.
Esse último problema, a Be Comunica tentou resolver caso a caso. “Autorizamos os funcionários a usarem as cadeiras da empresa, por exemplo. Mas tentamos entender as questões específicas de cada um. O pessoal do design precisa do desktop, por conta da criação.”
Usar o próprio notebook, entretanto, pode gerar um problema de segurança. “Como a gente trabalha com volume muito grande de arquivos, nossa rede foi um problema, porque é muito pesada. Mas, ao mesmo tempo em que precisamos ter acesso rápido a esse material, temos que garantir a confidencialidade aos clientes”, explica Villaboim.
No estudo da Capterra, apenas 36% dos entrevistados disseram que se preocupam em manter senhas fortes – com letras, números e caracteres aleatórios -, e só 39% dos mais de 4 mil empregados que responderam à pesquisa têm um software de antivírus instalado no computador. O número de trabalhadores que dizem utilizar firewalls (29%), VPNs (28%) e softwares de segurança de e-mail (22%) é ainda menor.
O comportamento não parece estar sendo monitorado pelas empresas. Apenas 19% dos funcionários disseram ter recebido algum tipo de treinamento ou formação em segurança informática. O fato parece mais assustador porque 50% dos trabalhadores que recentemente sofreram ataques ou tentativas de fraude afirmam que a tentativa de hackeamento aconteceu durante a jornada de trabalho remoto. Um risco desnecessário.
Fonte: CNN Brasil